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Você votaria de novo em Bolsonaro? (Big-Ben; F97)

24/04/2020 - Por mauricio palma nogueira
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Você votaria de novo em Bolsonaro?

 

Maurício Palma Nogueira *

 

Vou aproveitar o momento para responder a pergunta que aparece há semanas nas redes sociais.  Você votaria de novo em Bolsonaro?

 

Mesmo sabendo o que sei hoje, não me arrependo do meu voto. Eu seguiria novamente a minha opção do NOVO no primeiro turno e Bolsonaro no segundo. Não que eu esteja satisfeito, mas sim por saber qual era a outra opção.

 

Sem mencionar a destruição toda da educação e da economia, o que renderia páginas infindáveis de argumentos, o petismo passou meses se defendendo dos processos e das condenações de toda sua cúpula dizendo que as urnas os inocentariam.

 

Ora, não precisa ser um gênio para entender o que isso quer dizer. Votar no PT era negar o envolvimento da corja toda com corrupção em níveis jamais atingidos. Evidentemente que tal "inocentamento" não seria judicial e nem formal, mas sim moral.

 

Quem votou no PT ou ingenuamente não percebeu isso ou era conivente com a corrupção.

 

Essa sempre foi a tática vigarista da esquerda extremista e radical. Escrever e dizer ambiguidades para depois usar apenas o que for conveniente. Não dá para entender como a esquerda toda se alinhou com o PT. Eles optaram por se implodirem, depois de provocarem um estrago na nossa sociedade.

 

Eu passei a minha juventude e idade adulta discutindo política. Gosto disso, sempre gostei.

 

Desde os intensos debates nas assembleias do Centro Acadêmico na ESALQ até as recentes conversas em redes sociais, a esquerda sempre adotou uma posição de superioridade arrogante, desprezando os que pensam diferente. Tentativas de humilhações e plateias de micos acadêmicos para rirem e vaiarem as opiniões discordantes eram suas principais ferramentas de argumentação.

 

Ironias, piadas, adjetivações, julgamento de caráter, desmoralização e insultos compunham o arsenal desse pessoal. Quando era possível conseguir alguma conversa mais civilizada, qualquer citação a livros, autores ou linha de pensamento com que eles discordavam, já passavam a desqualificar.

 

Para essa turma, livros só são válidos se forem alinhados com seus pensamentos. Os outros eram considerados desprezíveis, embrião do tipo de atitude que até hoje é lembrada como o auge da ignorância autoritária: proibição e queima de livros.

 

Era até possível conversar, isoladamente, com diversas pessoas de esquerda com quem ainda mantenho ótimos papos. Mas bastava que se juntassem em debates ou assembleias, que suas condutas se alinhavam à turba, buscando intimidar os que discordam. Ou, na melhor das hipóteses, se omitiam. De qualquer forma nunca censuraram como os seus pares ignorantes tratavam os que discordavam deles. Pelo menos, nunca em público.

 

O surgimento das redes sociais praticamente tornou públicas todas as conversas. Cada post é uma assembleia. Passei muito tempo, ingenuamente, achando que dava para conversar com algumas pessoas que pensam diferente. Mesmo que essa pessoa não adotasse a postura de intimidação, sempre vinha algum heroico arrogante para baixar o nível. E nunca era censurado, mas sim premiado com algum emotion típico das redes. 

 

Passei a tratá-los como adeptos de uma seita. E religião não se discute, se respeita.

 

Por que falar da esquerda se o assunto é Bolsonaro? Pela simples razão de que eu os culpo por toda a polarização e radicalismo que tomou conta do cenário político.

 

Foram as atitudes arrogantes da esquerda que desmontaram o debate, desqualificaram-no tornando pequeno até que o radicalismo passasse a ser a principal forma de discordância. Era natural e previsível que em algum momento surgiria um movimento proporcional de sinal contrário, polarizando definitivamente a discussão.

 

Durante as manifestações contrárias à Dilma Roussef, grupos começaram a adotar condutas semelhantes à da esquerda. Surgiram diversas lideranças jovens que acabaram sendo alçadas ao primeiro grupo da política nacional.

 

O que trouxeram de novo? Apenas mais fundamentos argumentativos em termos de conteúdo. No entanto, as estratégias de comunicação foram as mesmas tradicionalmente usadas pela esquerda: intimidação, generalização, posições radicalizadas e destruição de reputações.

 

Uma tendência da qual eu sempre tentei convencer meus amigos, mais à esquerda, parecia estar ganhando corpo. Populismo opera para qualquer lado; basta se comunicar melhor em um cenário de insatisfação popular.  Aos bolsonaristas que estiverem lendo, guardem essa última frase que voltaremos nela. 

 

Os sinais eram claros. Alguém com discurso popular, que representasse a chance de apear a corrupção e incompetência petista do poder, teria grandes oportunidades no curto prazo.

 

Me lembro de conversas com algumas pessoas em 2016, quando eu dizia que haveria chances de Bolsonaro chegar à presidência. Não vou citar aqui quem são, mas logo depois do Rally da Pecuária daquele ano, eu, uma jornalista muito respeitada e um dos técnicos de minha empresa jantávamos juntos, saboreando um vinhozinho, quando expus porque achava que o Bolsonaro acabaria na presidência e o que poderia vir depois: uma crise política e um processo de impeachment, em menos de 2 anos após a eventual vitória.

 

Essa preocupação me acompanhou até hoje, quando finalmente se tornou realidade.

 

O impeachment pode não acontecer, mas a crise política chegou. Para que o Bolsonaro não seja apeado do poder, vem a segunda preocupação que eu sempre nutri diante dele. Nessa eu fui um pouco mais cuidadoso e a expus em artigo que escrevi no início de outubro de 2018, antes do primeiro turno. Segue um trecho.

 

"A minha dúvida quanto ao Bolsonaro é em relação ao seu histórico como parlamentar. As posições e votações do deputado sugerem uma agenda econômica muito mais próxima do que é defendido pela esquerda.

 

E a agenda econômica de esquerda, como já está provado, leva ao fracasso, empobrecimento, crise, fome, miséria e, no último estágio, ditaduras. Não há exceção na história, embora a desonestidade panfletária insista em dizer que a China seria um exemplo.  

 

É verdade que de 2017 para cá, o Bolsonaro tem se esforçado para demonstrar o comprometimento com uma agenda mais liberal, reformista. É fato que as pessoas mudam e pode ser realmente que ele se comprometa com as necessidades econômicas do país; mas suas declarações ainda não foram o suficiente para me convencer.

 

..... Bolsonaro representa um grande dilema. Apesar de ser hoje a única opção para vencer a esquerda, também personifica o maior risco de que ela volte mais forte e definitivamente vitoriosa em 2022."

 

Restava saber qual Bolsonaro assumiria. O posterior ao de 2017, ou o da vida toda como político?

 

Depois da posse, me surpreendi positivamente com o ministério formado e com a coerência entre o que havia prometido e o que estava executando. Honrar os compromissos eleitorais depois de assumir o poder é coisa rara na política brasileira.

 

Com exceção de Abraham Weintraub e Ernesto Araújo, o ministério é de altíssimo nível e competência, focado, técnico. Trabalham direito e entregam o necessário em cada uma de suas áreas.

 

Mesmo os que eu listei como exceção, é preciso analisar dentro dos preceitos democráticos. Apesar da minha discordância, ambos são reflexos das opiniões do próprio Bolsonaro que nunca as escondeu. E foi eleito democraticamente pelo povo brasileiro.

 

Ao contrário do que muitos creem, ou querem crer, são poucos os eleitores do Bolsonaro que são fanáticos a ele. A maioria é crítica e condiciona seu apoio de acordo com as suas ações.

 

É interessante também que muitos que hoje defendem a política do Bolsonaro não votaram nele em nenhum momento. Anularam ou votaram em branco no segundo turno, mas reconhecem os avanços porque encaram a gestão pública com seriedade e não como uma partida de futebol.

 

É daí que nasce o grande apoio, quase consensual, dos respectivos setores a três dos ministros atuais: Paulo Guedes, Tereza Cristina e Tarcísio Gomes de Freitas

 

Outros dividem opinião técnica entre os especialistas, mas ainda são ou foram cargos ocupados conforme o prometido, como é o caso do Ricardo Salles, Sérgio Moro e Mandetta.

 

Ótimo até aqui. Tudo indo bem do ponto de vista político, posição defensável em torno do Bolsonaro. Mas alguém insistiu em boicotar o sucesso da equipe. E esse alguém sempre foi o próprio presidente.

 

Mesmo entre os mais alinhados com os Bolsonaristas, o incômodo com a língua solta do presidente em ataques desnecessários e colocações constrangedoras sempre foi evidente.

 

O mesmo se pode dizer em relação à interferência inadequada de seus filhos, além da reincidente confusão entre família e público, como o infeliz episódio em torno da nomeação de um deles para a embaixada norte-americana.

 

Alguns tentavam esconder a insatisfação com a postura, justificando os ataques pelo radicalismo da imprensa ou dizendo se tratar de cortinas de fumaça para que a equipe focasse no necessário. Mas o fato é que o presidente nunca se desligou da campanha, não percebeu que representava a todos e não apenas a parcela que o elegeu.

 

As declarações do Bolsonaro sempre atrapalharam e sempre se tornaram um verdadeiro banquete para a imprensa. Como culpá-la quando não se tem razão?

 

Em menos de 18 meses de Governo, chegou a fatura do alto custo da língua solta do presidente. A pandemia acelerou tudo e evidenciou a inadequação do Bolsonaro para o cargo. Faltou liderança, faltou visão.

 

E diferente de como foi com Lula e Dilma, até mais inadequados ainda, a imprensa não seria dócil e tolerante por razões que não cabem discutir aqui.  

 

Ao contrário do que dizem, Bolsonaro não é nenhum burro. Passou por dois processos de impeachment como deputado. Sabe que a falta de apoio na casa e a desaprovação popular são os ingredientes necessários para a retirada de um presidente. É verdade que ele ainda conta com enorme apoio da população, mas ele sabe que a paralisação da economia cobrará seu preço minando sua popularidade. Ninguém mantém bons índices de aprovação durante, ou depois, de crises econômicas.

 

Isso explica a escalada de seu destempero e o descuido com as palavras diante da pandemia. Até mesmo para alguém que nunca teve papas na língua, algumas de suas declarações foram exageradamente radicais e descuidadas. A preocupação dele é grande porque sabe o que uma crise econômica representa em termos de consequência.

 

Depois de meses de descuidos e polêmicas desnecessárias, que geraram constrangimentos com os demais poderes, ele se viu diante do cenário perfeito para o impeachment.

 

O problema não é negociar com o congresso, o que faz parte da democracia. O problema é que ele está numa posição extremamente enfraquecida, consequência de suas próprias escolhas e atitudes durante os últimos meses.

 

Evidente que o fisiologismo da política brasileira vai tirar o máximo proveito possível da situação, ao passo que enfraquecerá ainda mais um campeão de votos que hoje se encontra numa posição extremamente desconfortável. Unindo-se ao que tem pior, e ainda de joelhos, Bolsonaro quebra totalmente o vínculo com o que ele diz representar

 

Aquele Bolsonaro, de posicionamento mais liberal pós 2017, voltará a ser o mesmo de sua longa trajetória como deputado; aquele cujo círculo familiar próximo conta com outros três filhos na política.  É a perfeita personificação da elite política brasileira que domina o poder há décadas, ou séculos.

 

Bolsonaro pode até ser puro e sincero em suas intenções e objetivos. Pode até ser honesto, mas errou feio na execução. E perdeu.

 

A polêmica com Sérgio Moro, e o que dizem que foi ou não falado, não serve para condená-lo como corrupto.

 

Mas há indícios suficientes para que seja rigorosamente investigado. Dado seu histórico terrível com a sua própria língua, é possível que ele tenha falado o que não devia a ponto de se enrascar mais uma vez.

 

Também julgo incoerente algumas posições de seus defensores dizendo que votou no Bolsonaro e não no Sérgio Moro. É verdade.

 

Mas era Sérgio Moro quem, até então, personificava o combate à corrupção, o desafio ao sistema, a coragem e a honestidade firme e irredutível. Como a corrupção é tão enraizada no petismo, era também o Sérgio Moro quem melhor representava a possiblidade de derrota do petismo; não eleitoral, mas aplicando-lhes a tal da clava da justiça na têmpora.

 

Não estou dizendo que Bolsonaro ganhou as eleições por causa do Sérgio Moro; estou dizendo que a plataforma eleitoral que o levou ao poder tem uma relação íntima com o agora ex ministro. Trata-se de um símbolo que os bolsonaristas precisam reconhecer.

 

Não é uma questão de quem está certo ou não ou de hashtag estou com tal ou hashtag sou tal. É preciso entender o que representa essa quebra na relação entre ambos.

 

Não concordo com os oportunistas do momento. Lula foi pego com a boca na botija em 2005, no mensalão. Foram mais 10 anos até que a população exausta fosse às suas "varandas gourmet bater suas Le creuset", como os idólatras petistas gostam de ridicularizar.

 

Isso tudo depois de tantos processos, provas, condenações, condenados, destruição da economia e o escandaloso estelionato eleitoral de 2014.

 

Por outro lado, não demorou nem 14 meses, e nenhum escândalo confirmado de corrupção, para que os "democratas" fossem às mesmas varandas com as mesmas panelas gritar assassino, miliciano, fora Bolsonaro, etc.  A noção de democracia dos hipócritas é irmã da indignação seletiva que beatifica um condenado e condena um suspeito por boatos.

 

Bolsonaro pode até ser culpado de alguma conduta criminosa ou ilegal, mas será considerado inocente até que um justo processo seja instaurado e o condene; da mesma forma que aconteceu, repetidas vezes, com a cúpula do PT, incluindo Lula.

 

Não é, portanto, esse o motivo de minha posição no momento.

 

Por ora, sua proposta perdeu o sentido. Bolsonaro não é um político habilidoso; ele é o que é, justamente o que o trouxe até aqui. Sua única chance de sucesso foi superada pela sua própria língua. Governar nos moldes tradicionais não é uma opção.

 

Se ele for realmente como os seus defensores acreditam que ele é, acabará se tornando uma vítima que, ao final, pagará como culpado. Basta raciocinar.

 

Na minha opinião, qual é a melhor opção do momento?

 

Passar o comando para o vice Hamilton Mourão para evitar um desgaste político dele próprio e do país. Agindo assim, ele poderá manter o que fez de positivo até aqui, com Mourão comandando um ministério de primeira e tendo a chance de conduzir o país na recuperação econômica. Mourão não estará enfraquecido e terá condições de corrigir os equívocos criados na relação com as instituições.

 

Se agisse assim, Bolsonaro se livraria da pecha de levar a economia ao colapso. Daqui alguns anos, o povo não vai se lembrar do vírus, nem mesmo do nome. Vão se lembrar do que perderam, do desemprego e do medo que tiveram.

 

Bolsonaro provou que é possível quebrar os acordos escusos que eram feitos para administrar o país.

Ele foi derrotado por ele mesmo, não pelo sistema. Foi a sua capacidade de perder a razão mesmo quando está com ela.

 

Se ele passar o bastão para quem possa dar continuidade ao que ele começou, ao final poderá provar que estava certo. Na guerra, há momentos em que se faz necessário saber que foi derrotado para planejar a retirada.

 

Aos bolsonaristas que chegaram até aqui, sabe aquela frase que sugeri que lembrassem? Populismo opera para qualquer lado; basta se comunicar melhor em um cenário de insatisfação popular.

 

Vale a pena arriscar o mesmo caminho trilhado pelos petistas e pela esquerda? Vale a pena apostar em um líder supostamente infalível e se entrincheirar em posições cada vez menos defensáveis?

 

Ps: O artigo anterior, citado no texto, pode ser acessado na íntegra, https://adealq.org.br/blog/o-partido-novo-e-o-voto-util-big-ben-f-97-2029

 

* Maurício Palma Nogueira (Big-Ben, F-97)

engenheiro agrônomo, sócio da Athenagro, coordenador do Rally da Pecuária, ex-morador da República Jacarepaguá

 

 

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