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Um plano inconsciente de Governo (Macéga; F10)

25/05/2020 - Por ricardo inojosa costa
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Ao observar os acontecimentos políticos recentes com seus reflexos na sociedade, percebe-se cada vez mais exposta a fratura da polaridade com suas dores nos relacionamentos e no medo, ampliando a sensação de angústia. Sente-se a cada dia um maior estado de insegurança.

 

A sociedade brasileira como um conjunto de indivíduos está cada vez mais dividida em universos ideológicos opostos, afastando-se rapidamente da intersecção, do bem comum, desfigurando arbitrariamente a importância da união.

 

Embora sejam ensejos comuns a grande maioria da população a aspiração à liberdade, à igualdade, ao desenvolvimento, e ainda haja uma grande fraternidade nas relações, há um regozijo intensificando as emoções ao se tentar provar o "certo". Nesse ambiente separado pela dualidade, a luta em defesa do lado que é considerado certo é mais importante, enquanto o outro lado é interpretado como uma ameaça que se deve combater indomitamente.

 

Um bom exemplo do dualismo latente foi a reunião ministerial que veio a público no final da semana passada. Enquanto o inimigo da humanidade atualmente é um vírus que assola a vida em praticamente todo o mundo com duras consequências; a liderança do executivo eleito pela maioria da população brasileira se reuniu para discutir o plano unificado de recuperação, e o que se viu?

 

Sem um plano, viu-se uma convenção de baixo nível conceitual e alto louvor ao ego enrustido no bem versus o mal. Em um clima tenso e hostil, externou-se um sentimento que se deve vencer, uma batalha de vida ou morte, não contra o verdadeiro inimigo mortal, mas o contra o inimigo criado por interesses menores. Um comportamento claro de quem está envolvido no mundo da dualidade, perdido na ilusão e no conflito. Quanto mais se luta nesse modo, maior a confusão.

 

Nessa cólera, viralizada pelas redes à sociedade, em se provar que tem que estar certo, não importa o custo, a possibilidade de estar errado se projeta como a própria ruína. Esse é o conflito, com opiniões sustentadas pela vaidade e pelo orgulho. Nesse desvio de consciência, admitir o erro representaria a própria morte.

 

E esse parece ser o plano inconsciente que dirige o Governo. 

 

Mesmo a dualidade sendo um sentimento comum ao ser humano, ligado ao processo de amadurecimento do ser, quando posto à sociedade, alastrado por sua liderança, pode forjar uma armadilha com grandes consequências. A transcendência de conflitos do campo pessoal para o social possibilita uma grande liberação de energia a partir de uma pequena quantidade de matéria, a fissão age como em uma bomba nuclear, gerando uma arma de explosão social. 

 

Nessa armadilha, quanto mais se insiste em provar que está certo, maior é a sensação de insuficiência dos atos, e quanto mais armas forem usadas em busca da vitória, mais profundas são as consequências. Perde-se a direção pela força da imposição, até a queda total.

 

Persistir nesse embate de "nós contra nós mesmos", é fermentar os males que causaram o empobrecimento e ampliaram a desigualdade no passado do nosso país e de muitos outros. Seguir cegamente a cólera da indignação, é ampliar drasticamente os próprios efeitos das causas repelidas. É um grande enviesamento dos valores e princípios que dirigem e sustentam uma sociedade politizada. Esse caminho pode seguir até corromper um dos poucos alicerces que pode assegurar a superação das dificuldades atuais impostas à sociedade: o estado democrático de direito, com o respeito da liberdade de cada indivíduo.

 

Apesar disso, como muitas das superações na vida, o remédio está na transformação, não deixar algo pequeno alastrar-se ao todo. É preciso deixar de lado o interesse mesquinho e aceitar a verdade que iguala um indivíduo aos outros. Esse desenvolvimento precisa romper o campo do orgulho pessoal e infiltrar nos verdadeiros valores propagados pelas lideranças para o bem da sociedade, pela força da unidade. É preciso aceitar para superar. Sempre há esperança, que haja mudança.

 

 

Ricardo Inojosa Costa

Macéga (F10)

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