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REMÉDIO SEM COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA (Molina; F79)

09/06/2021 - Por walter francisco molina junior
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Talvez, a expressão título desse texto seja a frase mais escrita e falada dos últimos tempos. De boca cheia, ela é falada por gente que não tem a menor ideia do que seja ciência. O que seria ciência?

Responder a essa pergunta me ocorreu quando assistia a um jogo de tênis do torneio de Roland Garros, no último final de semana. O tenista desferiu um golpe certeiro com sua raquete e, para sua surpresa, um vento inesperado levou a bola para fora da quadra. Ele usou sua experiência de uma vida de treino duro e jogos decisivos naquele movimento. Sem saber empregou os fundamentos da mecânica newtoniana a seu favor e seria ponto garantido, não fosse o vento. Todas as chances estavam com ele, de acordo com a ciência, quando golpeou a bola com sua raquete, mas algo o traiu. E então, a ciência estava a seu favor ou contra ele? A resposta a essa pergunta é difícil.

Se fizermos uma enquete sobre o que é ciência, a resposta mais frequente será, na média, algo parecido com: "atividade que se propõe a demonstrar a verdade dos fatos experimentais e suas aplicações práticas". No entanto, a realidade sobre o tema é bem diferente disso. Não vou me propor a explicar o que é ciência nessas poucas linhas, mas afirmo que ciência, positivamente, não é isso. É, em realidade, um conceito complexo, que se altera com o tempo e se molda ao conhecimento desenvolvido por si mesma.

A moderna ciência teve início no século XVII e muitos filósofos procuram, desde então, estabelecer regras e métodos para direcionar o trabalho daqueles que se ocupam dela. Infelizmente, ainda não temos um caminho único, mas a notícia boa é que os conhecimentos desenvolvidos pela ciência nos ajudam na maioria das vezes. Ainda assim, ela se reconhece falível, isto é, a ciência se entende como uma atividade com capacidade de errar. Cientistas verdadeiros sabem disso e sabem que, para "fazer ciência", devem se manter distante das emoções: convicções morais, religiosas, culturais, políticas, enfim, seus valores existenciais, deverão ser desconsiderados, tanto nas proposições como nos resultados de suas investigações e, principalmente, nas suas considerações e conclusões a respeito do trabalho desenvolvido.

Quando se trata da saúde das pessoas, porém, algo estranho acontece. Todos, em algum momento, já nos sentimos doentes sem ter uma causa definida. Uma dor, um mal-estar, febre sem explicação, um estômago embrulhado ou uma diarreia repentina. Quem tem filhos sabe como isso é verdade com os bebês. Depois de passado o mal, verificamos que foi simplesmente um efeito emocional. Nada físico, embora muitas vezes tenhamos tomado um remédio para conter a "doença". Pode ter sido um remédio, daqueles comprados na farmácia ou um copo de água com açúcar para acalmar. Poderia ser uma benzedura, como não, e se o mal fosse quebranto? Em todos os casos, os remédios fizeram efeito sem comprovação científica para aquele mal específico, que teria sido emocional. Algumas dessas situações se parecem com o efeito placebo, cujo resultado científico é bem conhecido. Placebo é algo que não é remédio, mas pode ajudar o paciente a se sentir melhor. Mas, o Conselho Federal de Medicina do Brasil veda aos médicos a possibilidade de indicação de placebo quando há possibilidade de tratamento eficaz para uma doença.

Então, se não há tratamento eficaz, podemos usar placebo, certo? Aí, se algo que se parece com remédio, mas é um torrão de açúcar der ao paciente a esperança de cura, ele pode ser administrado e o doente pode ter esperanças. Se tiver esperanças, ele passa a ter uma atitude positiva em relação a sua enfermidade e poderia, milagrosamente, sair do problema. Ou, então, teria mais chances, certo? Bom, esse procedimento não pode ser adotado como política de saúde pública, mas proibir o médico de usar algo que possa ajudar seria temeroso, concorda? Agora, imagine que estamos dentro de uma pandemia e que sabemos que centenas de milhares irão morrer, sem que possamos fazer nada, pois não há tratamento preventivo, muito menos precoce que dê jeito. Bem, imagine que um placebo possa salvar 10% dessas vidas. Acha muito? Então tá, vamos dizer que 1% possam ser ajudados. Ainda acha que é muito? Ok, que tal se o placebo pudesse ajudar somente uma pessoa. E se, justamente a pessoa que iria ser salva, fosse aquele seu amigo, ou seu primo, quem sabe seu avô; poderia ser sua mãe ou até seu filho! Você permitiria que o médico receitasse? Ou ficaria brigando com ele porque o produto não é cientificamente comprovado?

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