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O sentimento de pertencimento na ESALQ hodierna: Existe ou é utopia? (Vavá; F66)

19/08/2019 - Por evaristo marzabal neves
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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No ambiente organizacional a direção procura, com seus colaboradores, estabelecer o sentimento de pertencimento e, neste sentido, perseguir a meta de auferir ganhos em eficiência e eficácia em um ambiente saudável. O que isto significa? Que todos eles se sintam como proprietários num trabalho de equipe coesa, tanto no envolvimento individual carregado de satisfação e motivação em sua área de atuação, como no forte comprometimento institucional, perseguindo unidos o sucesso e caminhada exitosa da organização no cumprimento da missão, objetivos e metas.

Na literatura encontra-se que a "sensação de pertencimento significa que precisamos nos sentir como pertencentes a tal lugar e, ao mesmo tempo, sentir que tal lugar nos pertence e que assim acreditamos que podemos interferir e, mais do que tudo isso, que vale a pena interferir na rotina e nos rumos desse tal lugar na busca da realização e da felicidade total (Felicidade Interna Bruta)". Trocando em miúdos, nesta direção é "a necessidade do indivíduo se identificar com o local, se sentir parte integrante de uma sociedade específica. O indivíduo deve se sentir e atuar como parte de algo maior", sendo este ente, em nosso caso, a ESALQ.

No meu julgamento, diante deste significado, na ESALQ de hoje percebo que parte de nossa comunidade não vem dando real importância ao sentimento de pertencimento e já não valorizam ou mesmo desconhecem nossa cultura, nossos símbolos, nosso ambiente histórico e, consequentemente, ignorando-os.

Manifestei esta insatisfação e indignação no artigo "Cultivando, cultuando e reverenciando a memória" (inserido em nosso blog em 30/07/2016, com 4.298 views até 16/08/19), escrito em novembro 2014, ao sentir a ausência de um sentimento de pertencimento, tal a alienação prevalecente em parte de nossa comunidade. Sugeri, inclusive, para aqueles que não tinham o sentimento de pertencimento que conhecessem nossa história e que substituíssem o individualismo do "Cada um por si e Deus por todos" pelo lema dos mosqueteiros, agindo e bradando "Um por todos e todos por UM". Este UM se identifica como ESALQ.

Creio que para essa parte de nossa comunidade, o conhecer e desenvolver o sentimento de pertencimento e o de identidade podem se constituir na alavanca do inicio e do despertar de reflexões sobre a ESALQ, sua história e missão vitoriosa e sobre as próprias atitudes. Sentimentos de pertencimento podem interferir na construção de valores e de atitudes perante a casa que os acolhe: a ESALQ.

Julgar que "fazem a ESALQ de hoje" é menosprezar aqueles que ao longo de um século mantiveram, fortaleceram e ampliaram os ideais de nosso patrono Luiz de Queiroz. É um processo contínuo que teve como ponto de partida em 1901. Buscam se beneficiar da marca ESALQ, mas quantos deles conhecem e valorizam a persistência e saga de Luiz de Queiroz que não encontrou apoio governamental para sua ideia, mas lutou até o fim desfazendo-se de seus bens para a criação e fundação de uma escola agrícola prática em fins do século 19? Para estes, recomendo a leitura sobre a vida de Luiz de Queiroz, um visionário que faleceu em 11/06/1898, sem poder ver a realização de seu sonho com o nascimento de sua escola e inicio das aulas em 03/06/1901. Aliás, deveria ser uma exigência a leitura da vida de Luiz de Queiroz a cada recém-contratado docente, técnico, funcionário e pelos ingressantes de todos os cursos de graduação e pós-graduação. É tomar ciência e admirar a luta e os esforços de Luiz de Queiroz para implantar uma escola agrícola prática. Tomariam conhecimento do que conta a história, e é bom saber que "em 1889, Luiz de Queiroz arrematou 319 hectares da Fazenda São João da Montanha que possibilitou colocar em pratica o seu grande sonho: criar uma escola técnica de agricultura em Piracicaba. Sua ideia era formar os ex-escravos e outros trabalhadores da terra oferecendo-lhes o que havia de melhor em ideias práticas e equipamentos...Pediu empréstimos que foram sucessivamente negados e não teve outra saída senão em 1992 doar a área para o governo com a condição de que a instituição fosse inaugurada em 10 anos". Desta forma, de saída, poderiam entender o sentimento de pertencimento que deve prevalecer ao ingressarem na ESALQ e, assim agindo, com maior envolvimento pessoal e comprometimento institucional, reduzir os custos sociais da sociedade que nos mantem.

Como leitura complementar tomar ciência de nossos símbolos, pois é parte de nossa comunidade. O sentimento de pertencimento cresce espiritualmente no íntimo de cada membro da ESALQ (corpo docente, não docente e discente) ao cultuar e conhecer o significado de nossos símbolos, principalmente os da bandeira (a simbologia das cores marrom avermelhado, do verde, do azul, do amarelo e do branco, este sobre a faixa marrom e as siglas USP e ESALQ, cores que identificam a união Homem e Terra), do hino, da Ode, do vitral no Edifício Central, instalado em 1951. É interessante registrar que o símbolo "serve para designar um tipo de signo em que o significante (realidade concreta) representa algo abstrato onde só são compreendidos e incorporados dentro de um determinado grupo ou contexto (em nosso caso, o educacional)".

Neste ano (2019) completo 53 anos de formado (F-66) e 46 anos como docente na ESALQ, que somados aos cinco anos de estudante (1962-1966), representam cerca de 2/3 de minha vida (78 anos de idade). E, neste período, fui professor de alunos que na atualidade pertencem às gerações "Baby Boomers" (aqueles nascidos em fins dos anos 50), X e Y, com afinidades bem próximas com respeito ao sentimento de pertencimento, principalmente as mais antigas.

Pode ser que repouse aí um saudosismo exagerado de minha parte, pois o sentimento de pertencimento depende da percepção temporal de cada indivíduo na época de seu ingresso e no seu caminhar dentro da instituição. Quem vivenciou 46 anos dentro desta casa pode se manifestar a respeito, já que tem conhecimento da linha de seu tempo que vai desde o ano de 1962, ano do ingresso na ESALQ como estudante, tempo das Cadeiras e dos catedráticos e com um só curso: o de Engenharia Agronômica. Acompanhou a criação do curso de Engenharia Florestal em 1972, a desativação do curso de Economia Doméstica em 1991, o surgimento do curso de Economia Agroindustrial em 1998, que em 2003, passa para Ciências Econômicas, o de Ciências dos Alimentos em 2001 (ano do centenário da ESALQ), os de Gestão Ambiental e de Ciências Biológicas em 2002 e, em 2013, o de Administração. A instalação destes novos cursos requereu a contratação de inúmeros professores e pesquisadores de áreas afins e, desta forma, com pouco ou nenhum conhecimento de nossa história, mas fundamental para a diversidade e enriquecimento educacional de nossos novos alunos.

Nesta direção, a missão da ESALQ foi-se adaptando com o tempo diante da inserção de novos cursos, chegando hoje à "Missão de promover atividades de ensino. pesquisa e extensão nas áreas de Ciências Agrárias, Ambientais, Biológicas e Sociais Aplicadas para a formação de profissionais com excelência e cidadania, reconhecidos nacional e internacionalmente, para atender as demandas da sociedade" (para melhor conhecimento de nossa missão, acesse www.esalq.usp.br, Instituição e tome conhecimento da Linha do Tempo; Missão, Visão e Valores; Símbolos Esalqueanos, entre outras referências).

Estou aposentado desde 05/08/2011 (oito anos) quando cheguei aos 70 anos, mas aqui permaneço prazerosamente na qualidade de Professor Senior vivendo, convivendo, auscultando e percebendo o mundo juvenil, principalmente o dos ingressantes em Engenharia Agronômica. Sinto orgulho e prazer em dizer "Aqui é o meu país", lembrando Ivan Lins.

Qual nossa estratégia e missão para inspirar e direcionar esta meninada da engenharia agronômica à incorporação espiritual do sentimento de pertencimento em relação à ESALQ? De saída, são submetidos à reflexão (tarefa de casa) do artigo "Filho DA Luiz de Queiroz e Filho DE Luiz de Queiroz: são sinônimos?" (inserção em nosso blog em 20/07/2016, com 4.157 views até 16/08/19. Apresentado pela primeira vez em 2002 - disciplina: Introdução à Engenharia Agronômica). Enquanto Filho da Luiz de Queiroz é um estado físico, Filho DE Luiz de Queiroz é um estado espiritual, primeiro chamamento para a incorporação empática do sentimento de pertencimento ao seu novo lar. Tem encontrado eco, e como exemplo pode ser citado o fato de que na formatura deste ano (F-2018, janeiro/2019), o orador da turma em seu discurso, se dirigiu para mim (sentado na primeira fileira), enfatizando que os formandos são "Filhos DE Luiz de Queiroz". Quanta emoção naquele momento, com a lembrança de que este orador se submetera à reflexão do texto no primeiro semestre de 2014, caso não esteja enganado.

Outra iniciativa na busca do engajamento do ingressante em Engenharia Agronômica nesta temática é a reflexão do artigo "Ingressantes em Engenharia Agronômica: Qual o mal em lhes querer bem?" (inserção em nosso blog em 08/06/2019, com 253 views até 16/08/19) que trata da participação deles em ações sociais e de solidariedade enquanto aluno de graduação, como um retorno à sociedade que os mantem e sincera gratidão pelas facilidades, oportunidades e privilégios oferecidos ao longo de sua trajetória acadêmica. Ademais, a preocupação com a saúde mental e com a pouca atenção no tratamento de inteligência emocional num mundo juvenil de nativos digitais. Nos dias de hoje, estas reflexões estão inseridas na disciplina Vida Universitária e Cidadania, de responsabilidade do Prof. Roberto Arruda de Souza Lima e minha corresponsabilidade.

Neste artigo busca-se apoio em que "o sentimento de pertencimento deve ser trabalhado deste cedo (principalmente com os ingressantes nos cursos da ESALQ, que não tem nenhuma ideia da mensalidade paga pela sociedade que mantem a universidade publica)"... "Por isso a importância de conhecer para valorizar. Conhecer a história local é uma forma de valorizar o presente encontrando no passado os exemplos que inspirem ações futuras. Quem conhece também cuida, preserva" (Historiadora Natalia Nogueira em "Construindo um sentimento de pertencimento").

No referido artigo, logo cedo, se atendido o chamamento e engajamento ao sentimento de pertencimento com respeito à ESALQ, em sua parte final, como motivação e estímulo, são incluídos para reflexão, expressões de John Kennedy e Olavo Bilac e adaptadas ao nosso cotidiano. De John Kennedy: "Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país". Adaptando para o autêntico Filho DE Luiz de Queiroz: "Não pergunte o que a ESALQ pode fazer por você (já faz muito). Pergunte o que você pode fazer pela ESALQ (para sua grandeza, compartilhando problemas, cooperando e ajudando nas soluções)". Acrescentando, com este comportamento e conduta, não seria uma adesão ao sentimento de pertencimento? E, ainda nesta direção, lembrando Olavo Bilac: "Ame com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Criança! Não verá nenhum país como este!", que adaptado para o genuíno Filho DE Luiz de Queiroz corresponde a: "Ame com fé, dedicação, empenho e orgulho, a escola que escolheste! Jovem ingressante! Não verás no país nenhum ensino como este!".

Nesta oportunidade para concluir quero louvar e agradecer a Diretoria da ADEALQ pela contribuição que tem oferecida à ESALQ, principalmente pelo Programa de Bolsa de Permanência "Valdomiro Shigueru Miyada", oferecida, após criteriosa seleção, aos alunos que se encontram com dificuldades socioeconômicas para sua manutenção na Universidade. Portanto, prezado ex-aluno, caso não seja ainda, se torne um sócio mantenedor para fortalecermos o sentimento de pertencimento na parceria ESALQ-ADEALQ.

Hoje (19/08/19) somos 420 sócios mantenedores. Que tal estabelecermos a meta de mil até 31/12/2020? 

Para tanto é seguir a recomendação no site da Adealq (www.adealq.org.br) para que convidem seus colegas de turma e de republica para fazerem parte desta coletividade. Luiz de Queiroz (espiritualmente) agradecerá nossos esforços e desprendimento para mantermos vivo seu ideal educador. "Unidos venceremos, divididos perderemos", ou seja: "Uma equipe coesa voltada para o bem, jamais se desorganizará".

 

Evaristo Marzabal Neves (Vavá) F-66

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