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Meu Mundo Caiu (Vavá; F66)

19/03/2021 - Por evaristo marzabal neves
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Imagine alguém que, chegando aos 80 anos em 2021, vem experimentando pela primeira vez um ambiente de quarentena, do "Fica em casa", do distanciamento e isolamento social, por pertencer ao grupo de alto risco, quando até março de 2020 vivenciou, desde os primeiros anos de vida, o universo educativo e emocional dos "olhos nos olhos" e o "tête à tête"? Você consegue imaginar o estado emocional deste alguém que completa 50 anos de vinculo docente com a ESALQ, onde começou em 1972 quando a convite proferiu 75 horas/aula para 12 pós-graduandos na disciplina LES 740: Economia da Produção II? Oficialmente, o ingresso definitivo na ESALQ, através de concurso, aconteceu em 1974.

Imagine alguém que completa 10 anos de aposentado em 05/08/2021 e que permaneceu na ESALQ como Professor Senior via "contrato espiritual" com nosso líder Luiz de Queiroz para, como educador e de saída "olhos nos olhos", perpetuar na alma do jovem ingressante em Engenharia Agronômica o sentimento de pertencimento, iniciando-os a serem "Filhos DE Luiz de Queiroz" e não meros "Filhos da Luiz de Queiroz"? (Filhos DA Luiz de Queiroz e Filhos DE Luiz de Queiroz: São sinônimos? No blog em 20/07/2016) e, em seguida, o sentimento de gratidão ("Ingressante em Engenharia Agronômica: Qual o mal em lhes querer bem?" No blog em 08/06/2019)

Imagine alguém que no seu cotidiano curte a beleza arquitetônica do Campus, seus edifícios, parques, arvores e lagos e se vê impedido de frequentá-lo de corpo e alma, vivendo um mundo remoto, frio e sem sentido nos dias de hoje? Que solicita ao ingressante, quando aguardando aula na escadaria do Pavilhão de Engenharia, que peça para um colega tirar uma foto sua em março, junto ao ipê branco, totalmente verde, e depois em agosto/setembro (quando floresce, ficando totalmente branco por 2 a 3 dias); ou mesmo junto a um flamboyant em março e depois em novembro, totalmente florido ("o estudante padece quando o flamboyant floresce", marca registrada de nosso tempo de estudante, 1962/1966, quando chegavam as provas finais do ano, após passar um ano completo, sistema seriado, numa Cadeira/hoje Departamento). Ao curtir, fotografar e reverenciar estes momentos procuro desenvolver o respeito à natureza e o sentimento de pertencimento na manutenção e conservação de um Campus, considerado como uma das sete maravilhas de Piracicaba. E, recentemente, que tal como ingressante tirar uma foto sentado ao lado de Luiz de Queiroz no banco junto ao laguinho defronte o Prédio Central e, anos depois, em sua formatura?

Imagine alguém que estaciona seu carro do outro lado do lago (Pavilhão de Engenharia) e, ao sair, demora um instante para curtir as duas mudas de Amburana cearensis (arvore comemorativa dos 50 anos de formado, plantada em outubro de 2016) e caminha até próximo à guarita de entrada para reverenciar também a Amburana cearensis, plantada em janeiro de 1967, quando de sua formatura. Tiro fotos de ambas, de tempo em tempo, e encaminho para o grupo F-66 para matar as saudades ("Me inveje que eu gosto").

Imagine alguém que desde 1972 é docente na ESALQ, tendo ao longo deste tempo até os dias de hoje vivenciado o mundo juvenil, seja em disciplinas obrigatórias ou optativas, como se sentiu quando a partir de 16/03/2020 deixou de frequentar as salas de aula, as conversas nos corredores e em minha sala, o contato "olhos nos olhos", a convivência amiga e fraterna com nossos ingressantes em Engenharia Agronômica, bolsistas e estagiários?

Imagine alguém que criou em 1988 o grupo PET-GAEA (Programa de Educação Tutorial-Gerenciamento e Administração da Empresa Agrícola/Ex Programa Especial de Treinamento) junto a CAPES, (hoje Convênio Sesu/MEC e Pró-Reitoria de Graduação da USP) convivendo com 12 bolsistas sediados em minha sala no Departamento, compartilhando e trocando ideias, emoções, sonhos, alegrias e tristezas, artigos científicos e técnicos publicados em revistas e jornais, orientações em iniciação científica na base "olhos nos olhos", um ombro amigo? Com a aposentadoria em 2011 deixei a tutoria e permaneço como cotutor. Meu Deus, como é prazeroso viver o cotidiano com os jovens! A partir de março 2020, este vivenciar foi "para o espaço". Tristeza. Saudades mil. Não posso deixar de lado outros bolsistas (Fapesp, CNPq, Capes/Fulbright, Fealq e de outros organismos) e estagiários que marcaram presença em minha sala e em minha vida acadêmica..

Imagine alguém que participa todo ano, de forma presencial, da Semana de Recepção aos ingressantes da Semana Luiz de Queiroz (em anos recentes, como membro da Comissão de Acolhimento dos Pais), da Sessão de Encerramento e do Churrasco dos Quinquênios, da Sessão de formatura no Gramadão Central, da Sessão Comemorativa do aniversario da ESALQ, dos churrascos anuais de encontro dos ex-bolsistas do PET-GAEA e de convidado por ex-moradores de republicas ou de grupos de extensão, dos inúmeros eventos comemorativos em nosso Salão Nobre, do Encontro de Corais Luzes e Vozes e de outros eventos em que, na qualidade de ex-diretor sou convidado e que no ano que passou foram comemorados por lives ou vídeos?

Só para lembrar, caro ex-aluno, uma data que anualmente fico esperando com enorme ansiedade e prazer, e acredito que você também, é a do Encontro dos Ex-Alunos que comemoram seus quinquênios no dia de encerramento da Semana Luiz de Queiroz. Como é prazeroso encontrar, apertar mãos e abraçar colegas contemporâneos dos anos 60, ex-alunos que foram meus alunos a partir de 1972, ex-bolsistas, ex-estagiários, ex-orientados, amigos eternos. E tome fotos e mais fotos particulares ou no meio de turmas. Nada substituí estes momentos de "olhos nos olhos". "Me inveje  que eu gosto". Saudades.

E os "olhos nos olhos" com nossos colaboradores não docentes, sempre prestativos, cooperando e apoiando em nossas demandas no Departamento, ou mesmo na ESALQ.

E os "olhos nos olhos" nas diversas diretorias, presidências, chefias (ESALQ/4 anos. FEALQ/14 anos, Departamento de Economia, Administração e Sociologia/4 anos na Chefia, ADEALQ, ADAE/Associação dos Docentes Aposentados da ESALQ, Fundação Agricultura Sustentável/Agrisus - 10 anos, Comissão de Cultura e Extensão da ESALQ/Presidência por 4 anos, CEFER/Centro de Educação Física, Esportes e Recreação do Campus - Diretor, Comissões e Conselhos (Universitário, CPA/Comissão Permanente de Avaliação, assessora do Conselho Universitário, CAA/Comissão de Atividades Acadêmicas na Reitoria da USP, Congregação/ESALQ, Conselho Técnico Administrativo/CTA-ESALQ, CAD, Conselho Departamental, Esalqtec/Incubadora Tecnológica, Comissão da Biblioteca do Campus, Revista Visão Agrícola, Conselho Editorial da Fealq, entre outros). Saudades.

E os "olhos nos olhos" com meus velhos companheiros da República "Viúva da Colina" em volta da mesa, no almoço e no jantar, "jogando conversa fora" daquelas de "derrubar lagartixa de parede", e dos colegas da turma F-66 nas aulas teóricas e práticas, da AAALQ (sou sócio até hoje, com desconto no holerite) e do CALQ, local de encontro em muitas noites.

Enfim, poderia listar outros contatos "olhos nos olhos" e "tête à tête" que marcaram e marcam minha passagem como docente na ESALQ, mas paro por aí. Mundo sonhado, praticamente 55 anos incluindo a vida acadêmica (1962 a 1966), marca de uma paixão correspondida que nasceu nos idos de 1958, quando pela primeira vez pisei no solo esalqueano ("Amor à primeira vista", ESALQ Notícias, Ano VIII, número 23, março/2011 - Projeto Memória, pg. 8. No blog da ADEALQ em 18/09/2016).

Pelo jeito, nesta altura da pandemia, é um "mimimi" e "chororô" sem fim, quando na verdade é uma confissão. E, qual o aprendizado?

Fica para o "Meu mundo caiu II".

Finalizando, a música lançada pela Maysa em 1958 começa por: "Meu mundo caiu e me fez ficar assim" (triste, desanimado, saudoso do tempo "olhos nos olhos" em nossa escola mãe), mas adiante, entoa: "Se meu mundo caiu...Eu que aprenda a levantar" (nem que tenha que usar máscaras, manter distância e higienizar as mãos a vida toda, mas, por favor, que vigore os "olhos nos olhos" e o "tête à tête" no meu cotidiano em nossa escola. Luiz de Queiroz, o que você acha?

 

 

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