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Carta Gestor - Toda fazenda de cria esconde em sua alma uma fazenda de engorda

19/06/2018 - Por alcides de moura torres junior
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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De olhos fechados, sem lançar mão de muitas planilhas qualquer pessoa sabe que o faturamento de uma fazenda de cria tem na base a venda de bezerros machos. Quanto mais melhor! Se forem pesados, o sorriso é mais largo, pois há maior competitividade e preço mais valorizado no mercado. Esse é o objetivo do negócio, mas será que a sua participação no lucro é tão arrebatadora?


Surpreenda-se.... em média, menos da metade do faturamento de uma fazenda de cria vem da venda de bezerros. De acordo com os dados Inttegra a venda de machos corresponde a 45% da arrecadação financeira. A segunda maior parcela, ou seja, 35% é proveniente da venda de fêmeas que não emprenharam e saíram do ciclo de reprodução. A conta fecha com 20% do que foi vendido em novilhas que não serão usadas na própria reposição.


Fica claro que em seus pastos, a fazenda de cria abriga outro negócio de impacto financeiro que é a venda de animais de descarte. Muitas vezes, em época de preço de bezerro em baixa, a venda das matrizes de descarte é a salvação da "lavoura", o que nos leva a defender a ideia de que toda fazenda de cria esconde em sua alma uma fazenda de engorda.


O produtor de bezerros precisa assumir essa característica para que, consequentemente, esteja mais atento às melhores estratégias relacionadas à produção de carne em curto período de tempo. Essa preocupação é importante, pois muitas vezes, o produtor sustenta uma fêmea vazia por longo período na fazenda em razão da baixa afinidade com as práticas de engorda e deixa de fazer caixa em curto prazo. Vendendo antes, ele se capitaliza e ainda libera área, no período seco, para as fêmeas em produção. A mente do líder não pode aquietar-se. Precisa manter-se questionadora.


A hora é agora


Em junho, estamos em um momento crucial para executar estratégias devido aos manejos de desmame. Ainda há tempo de mudar a rota e garantir que as fêmeas de descarte, ou seja, as que terminaram de criar o bezerro, mas não emprenharam, saiam o quanto antes da fazenda. Analíse comigo:


No desmame, o ideal seria que ao separar as mães de seus bezerros, as matrizes vazias seguissem direto para fora da fazenda. Infelizmente, isso na maioria das vezes não acontece por seu baixo escore corporal. Elas precisam restabelecer-se, afinal, a vacada de descarte é vendida pelo peso, sem nenhuma valorização para seu potencial produtivo ou genético.


Para que haja esse ganho, admite-se que elas fiquem mais um pouco na fazenda. Em geral 25% das matrizes de descarte são negociadas em até 30 dias após o desmame, pois estão em melhores condições. As demais (75%) são mantidas a pasto, para que possam ser vendidas quando alcançarem peso, e quanto mais demorar, pior.  


É nessa hora que é preciso valer-se da tecnologia e fazer contas. O que vale mais a pena para meu modelo de negócio? Intensificar ou manter a vacada por mais meses, mesmo com o inverno na porta? Por exemplo, uma fêmea "sentida", ou "meia carne" precisa normalmente de mais 1,5@ para estar apta ao abate. Intensificar esse trato irá impactar em um gasto dobrado com a nutrição da fêmea, com custo por cabeça ao mês de R$70,00. Em dois meses, o total será de R$140,00.


Se optar por não fazer um trato e manter a rotina de pasto, a fêmea que está fisicamente sentida ainda passará pelo período seco, de julho a setembro e somente irá ganhar peso a partir das chuvas de verão, em novembro. Na prática, ela estará pronta para o abate em janeiro do ano que vem.  Com isso, foram seis meses de um animal que não está mais entre as vacas produtivas. O custo por cabeça mês ficou mais barato, em R$40,00, porém, no total chegou a R$240,00. Uma diferença de R$100,00, se comparado ao gasto com para engordar a fêmea pós desmame.


Será que manter esse animal na fazenda vale a pena? O foco deve estar em antecipar o quanto antes a sua saída. Com isso libera-se pasto; há redução no número de animais na operação; há antecipação de recurso da venda dos animais e uma cria cada vez mais tecnológica e perspicaz.


A mesma preocupação com a "alma de engorda" das fazendas de cria está no trato das fêmeas jovens para que iniciem o quanto antes seu período reprodutivo. Como tendência, o desafio aos 14 meses será um pré-requisito para rentabilidade da cria, pois seu impacto é grande no ganho médio diário (GMD) da fazenda. Enquanto uma fêmea adulta incorpora apenas o ganho médio de sua produção, ou seja, o crescimento do bezerro, uma fêmea jovem traz para a conta o crescimento do bezerro somado ao seu próprio. No fechamento de cálculo, o impacto é grande, pois favorece o GMD total.


Com certeza, o manejo de emprenhar fêmeas jovens exige uma série de atitudes. É fato que novilhas que emprenham cedo, se parirem com baixo escore corporal, terão um pós-parto péssimo, comprometendo sua manutenção.  Por outro lado, também é fato que a tecnologia precisa ser adotada para quem quer estar entre os mais eficientes na cria e garantir dinheiro em caixa.


Portanto, é preciso pensar além, assumir a alma de engorda das fazendas de cria e estar atento a todas as tecnologias. Elas são determinantes para a conta fechar ainda melhor.

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